terça-feira, 19 de junho de 2012

A responsabilidade de ser Protetor de Animais


Ultimamente é frequente o número de pessoas envolvidas com a causa animal que desistem e divulgam isso como se os outros tivessem a obrigação de recolher os seus animais e resolver o problema criado por eles. Não bastasse isso, ainda temos outro número crescente de protetores que morrem e deixam 70, 100, 200 animais totalmente à míngua e entregues à própria sorte. Às vezes quando tomamos conhecimento do caso alguns destes animais já morreram por inanição, por brigas, doenças e frequentemente nestes casos encontramos o canibalismo. E quem tem condições de absorver estes animais se estamos todos superlotados e com dívidas em clínicas e lojas de rações?
 Eu sempre digo a todos que o limite entre sanidade mental e desequilíbrio, na proteção animal, é muito tênue. Realmente não é fácil lidar com o pior ser humano que existe, um ser capaz de maltratar e cometer as maiores atrocidades com outro totalmente indefeso, ou pior, quando esse ser indefeso pertence a esse humano, e vive somente por ele e para ele. Recolhemos das ruas animais em situações tão deploráveis que algumas vezes tendemos a nos revoltar com “todos” os seres humanos, porém esse é o primeiro passo para o desequilíbrio mental, que pode colocar em risco nossa vida, a vida de nossos familiares e a vida de nossos resgatados.
Quando um protetor começa a dizer que “gosta mais de bicho do que de gente”, para humanos, geralmente ele é encarado pelos que não o conhecem e não tem conhecimento de sua luta como louco, e as pessoas em geral passam a se afastar dele. Entre nós, protetores, isso é compreensível por compartilharmos das mesmas vivências, porém quem dá esse primeiro passo geralmente dará o segundo que é atacar verbalmente a todos ao seu redor, às vezes ataca aos familiares, aos amigos e até os outros protetores que estão ao seu lado na militância, também salvando vidas.
O terceiro passo normalmente é o isolamento, a pessoa passa a querer somente a companhia dos animais, isola-se do mundo. Normalmente quando chega a este estágio já está fazendo tratamento contra depressão ou bipolaridade, já se afastou dos familiares, dos amigos, da família, perdeu o emprego, passou a perder a vaidade e, algumas vezes, não diferencia a sua vida da vida de seus animais. Então passa a recolher animais das ruas indiscriminadamente, como se quisesse, ou se pudesse, resolver a problemática dos animais sozinha. Neste ponto o único relacionamento que tem com outras pessoas é para pedir ajuda financeira, que dificilmente vem de acordo com o necessário, o que resulta em dezenas de animais na casa do protetor... Ambos, animais e humanos, passando necessidades.
Quantos de nós não conhecemos esta história: Protetor sem amigos, sem familiares, sem emprego, sem dinheiro, com ordem de despejo e com dezenas de animais.
Já está cada vez mais difícil doar animais, principalmente pelo fato dele não confiar em nenhum humano, e se torna cada dia mais perigoso que este protetor se transforme num colecionador.
Não existe uma fórmula para evitar que isso aconteça, todos nós estamos sujeitos a isso, mas penso que uma base familiar e amigos sinceros são de extrema necessidade para nos mantermos equilibrados. No meu caso particularmente, que já estive à beira de chegar a este estágio, que abandonei meu emprego, que recolhia animais indiscriminadamente sem pensar nas contas, que cheguei a dever em clínicas veterinárias cerca de duas ou três vezes o salário que recebo hoje, que pensei em me separar do meu marido porque ele tentava de alguma forma brecar meu impulso por recolher animais, que não pensava que minha filha, de dois anos na época, que precisava de mim, que me afastei dos meus amigos, etc.
 O que me ajudou foi exatamente a família. Ouvir aos que me amam, com a mente aberta para poder absorver tudo aquilo, olhar ao redor e entender que não sou capaz de mudar o mundo, nem de salvar a todos os animais, entender que para proteger animais necessito estar equilibrada para não proporcionar a eles uma situação, às vezes, pior do que a que eles se encontravam antes de serem resgatados, perceber que os protetores de animais desequilibrados  e agressivos não são levados a sério, não podem levantar uma bandeira e nunca atingirão os seus objetivos na sociedade por não possuírem o potencial de credibilidade necessário para defender a causa, aprender a resgatar animais de acordo com a minha capacidade financeira de lhes proporcionar tudo o que for necessário para seu tratamento enquanto estiver sob minha guarda, com a consciência de que ninguém tem a obrigação de me ajudar, e principalmente, pensar no amanhã.
Se amanhã eu não estiver mais neste mundo o que será de meus animais? Será que meu marido merece se transformar em protetor de animais de forma obrigatória? Será que ele terá condições de cuidar da casa, dos filhos e dos animais sozinho? Será que ele quer isso? Será que ele merece?... Ele não é protetor de animais, eu quem sou. E seu eu morasse sozinha com 50 animais e morresse, o que seria deles?
Se você ama animais pense nisso, lembre-se que nenhum de nós tem garantia de vida neste planeta, pense que os animais sob sua guarda não podem se defender e são totalmente dependentes de você. Lembre-se que a morte faz parte da vida e preocupe-se com o que será deles amanhã se você morrer hoje.
E pra você que decidiu deixar a causa animal porque tudo o que descrevi acima aconteceu com você, lembre-se que ninguém tem a obrigação de assumir o seu compromisso ou de resolver os seus problemas. Saia da causa de cabeça erguida e doe antes todos os animais que estão sob sua guarda, assuma a responsabilidade pelo que fez, se você resgatou cabe a você doar. Essa obrigação é sua, de mais ninguém.
                                                                    Lilian Rockenbach 

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